No mês que vem entra em vigor o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionado pelo presidente Lula em agosto passado depois de quase 20 anos em tramitação
Em resumo, a nova lei proíbe os lixões e determina que os fabricantes sejam responsáveis pelo descarte de seus produtos ao final do ciclo de uso. Se por um lado muitos empresários começam a contabilizar os custos da obrigatoriedade, por outro há quem veja boas oportunidades de negócios neste novo cenário.
No segundo grupo estão as empresas que farão parte da cadeia de coleta, seleção e destinação dos resíduos. Isso inclui, por exemplo, cooperativas de catadores, reparadoras, recicladoras e empresas de logística reversa. “Começamos a identificar a oportunidade há dois anos porque sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a lei seria sancionada. Muitas empresas estavam só esperando a publicação para tomar uma atitude”, afirma Marcelo Sousa, diretor de logística da TGestiona, de São Paulo, unidade do Grupo Telefônica.
A empresa já trabalha com logística reversa de eletroeletrônicos para clientes como TVA, Lenovo e Positivo, recolhendo produtos devolvidos por clientes. Recentemente, a TGestiona criou uma central de logística reversa para reduzir custos de operação e ganhar o know-how necessário para atender às novas demandas previstas pelo PNRS. “Esse mercado vai demandar empresas especializadas porque a eficiência da logística reversa depende muito dos volumes. Se você trafega vazio e por longas distâncias, o custo aumenta muito”, explica.
Para o executivo, a associação entre fabricantes de um mesmo segmento é a saída mais fácil para reduzir as despesas que virão com logística reversa. O conselho vale especialmente para pequenas e médias empresas, que trabalham com volumes menores. “De qualquer forma, eu acredito que o consumidor vai começar a preferir comprar de quem estiver preparado para cumprir a legislação, ou seja, receber o resíduo de volta. Por isso, o caminho é sair na frente”, destaca Sousa.
A eficiência financeira das operações também depende da melhor estruturação da cadeia de coleta e destinação dos resíduos, afirma o executivo. É preciso, por exemplo, contar com uma ampla rede de postos para agrupamento dos volumes coletados. Quanto mais próximas estiverem as empresas de destinação, menores serão os custos porque o transporte é o item mais caro no processo de logística reversa. Segundo Sousa, o problema é que ainda há um número muito escasso de empresas reparadoras e recicladoras.
“A criação de uma infraestrutura para destinação correta dos resíduos será o primeiro desafio do PNRS após a fase de conscientização”, afirma Ernesto Watanabe, diretor-geral da Descarte Certo. Fundada em 2008, em São Paulo, a empresa lançou há seis meses um serviço pré-pago de descarte de itens eletroeletrônicos. Comercializado nas lojas da rede Carrefour, o serviço tem ganhado cada vez mais usuários. A Descarte Certo agenda o melhor dia e horário para fazer a coleta e entrega ao cliente um certificado de destinação correta do produto.
Por enquanto, o serviço está disponível em todo o Estado de São Paulo e em cidades de Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. “Nossa meta de expansão é o Brasil inteiro”, afirma Watanabe. A empresa também projeta uma parceria com fabricantes para colocar o selo da Descarte Certo no momento em que a mercadoria estiver saindo da fábrica. Desta forma, o cliente teria a garantia do serviço de descarte desde a aquisição do produto. Hoje, empresas como o banco Santander dão descontos no serviço para clientes preferenciais.
Lixo lucrativo
Watanabe destaca o enorme potencial de negócio que existe por trás do lixo eletrônico no Brasil. Segundo ele, mais de 100 milhões de novos eletroeletrônicos são colocados no mercado brasileiro a cada ano. “Precisamos transformar itens obsoletados em matéria-prima para novos produtos”, destaca. Para o empresário, vislumbrar e formatar novos negócios é a única forma de fazer a lei “pegar”. “Tem que haver um componente financeiro, senão a lei cai no esquecimento”, acredita Watanabe.
Para empresas como a Wisewood Soluções Ecológicas, cuja proposta é substituir a madeira por compósitos plásticos recicláveis, a lei é muito bem-vinda. Com a exigência de destinação correta para os resíduos, a tendência é que aumente o volume de matéria-prima proveniente de recicláveis e, consequentemente, haja queda nos preços. “Hoje eu compro muita coisa em aterros sanitários. Como eles devem se tornar muito caros com o fim dos lixões, a tendência é adquirir resíduos diretamente do gerador”, explica Rogério Igel, proprietário da empresa.
A base da madeira Wisewood é qualquer tipo de plástico reciclável. A ele podem ser agregadas até 40% de fibras vegetais como serragem, bagaço de cana, bambu, borra de café, sabugo de milho, casca de arroz, raspas de couro, algodão e folhas, entre outras. A empresa calcula que retira cerca de 700 toneladas por mês de resíduos descartados. Fundada em 2007, em São Paulo, a Wisewood começou suas atividades desenvolvendo pallets, estacas e dormentes. Segundo Igel, para cada três dormentes feitos com madeira plástica, três árvores deixam de ser derrubadas.
O empresário ainda destaca outras vantagens da tecnologia Wisewood: alta durabilidade, imune a pragas, resistente à corrosão, não solta farpas e não absorve umidade. O problema é que ela ainda é mais cara que a madeira, mas para Igel esse entrave está com os dias contados. “Há fortes indícios de que a madeira legal e certificada ficará cada vez mais cara”, argumenta. A confiança de Rogério Igel nesse mercado se traduz em números. Ele está investindo R$ 10 milhões na compra de três novas máquinas. A meta é elevar a produção de 80 para 150 toneladas mensais e o faturamento de R$ 600 mil para R$ 1,3 milhão ao mês.
Para quem vê apenas custos embutidos no PNRS, o especialista em gestão ambiental João Ricardo Magalhães Gonçalves recomenda: “É preciso ser criativo e buscar alternativas para, a médio e longo prazos, tirar proveito da situação. Há muito valor agregado em materiais que hoje seguem para lixões e aterros sanitários. Estamos jogando dinheiro fora”. O executivo, sócio-diretor da Eccox Tecnologia e Soluções Ambientais, de Betim (MG), cita a construção civil para mostrar a necessidade de readequação de processos. Segundo ele, estima-se que a cada três edifícios construídos, um novo poderia ser erguido só com o que foi para o lixo.
A conscientização do que realmente é lixo é o ponto crucial deste debate na opinião do empresário Rodrigo Sabatini, presidente da NovoCiclo Ambiental, de Florianópolis. “Lixo é lixo, resíduo é resíduo. Eles têm que ser destinados para lugares diferentes”, afirma. A empresa faz a gestão de resíduos em empresas, condomínios residenciais e cidades, baseada no conceito de lixo zero. “Nosso trabalho é fazer com que o responsável encaminhe o resíduo para um destino onde ele possa ser utilizado em nova etapa de produção. Não adianta só passar o problema para frente”, explica Sabatini.
O fato, segundo o advogado Wladimir Antonio Ribeiro, do Escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados, é que as empresas que não se adequarem podem perder mercado. Tanto no Brasil quanto em outros países, onde os consumidores já esperam atitudes responsáveis dos fabricantes diante do descarte de seus produtos. Para Ribeiro, que assessorou o Ministério do Meio Ambiente na elaboração da nova lei, o PNRS é “uma política necessária num momento de forte crescimento econômico e redistribuição de renda”, sob pena dos aterros sanitários entrarem em colapso no Brasil. “Temos que colocar preço nas coisas para que ele seja sentido no bolso. Hoje, não custa nada jogar uma garrafa pet no rio. Isso tem que mudar.”
O que diz a lei
- Resíduo é o descarte que pode ser reaproveitado ou reciclado.
- Rejeito é o lixo que não pode ser reaproveitado.
- O destino de resíduos passa a ser responsabilidade de toda a cadeia envolvida – fabricantes, importadores, comerciantes, consumidores e empresas de serviço público.
- O fabricante é o responsável pela coleta e destino final do produto ao final de sua vida útil.
Linha direta
Descarte Certo: (11) 2167-5800
Eccox Tecnologia e Soluções Ambientais: (31) 3591-1050
NovoCiclo: (48) 3025-1134
TGestiona: 0800 777-1010
Wladimir Antonio Ribeiro:(11) 3068-4700
Wisewood: (11) 4594-5813
Em resumo, a nova lei proíbe os lixões e determina que os fabricantes sejam responsáveis pelo descarte de seus produtos ao final do ciclo de uso. Se por um lado muitos empresários começam a contabilizar os custos da obrigatoriedade, por outro há quem veja boas oportunidades de negócios neste novo cenário.
No segundo grupo estão as empresas que farão parte da cadeia de coleta, seleção e destinação dos resíduos. Isso inclui, por exemplo, cooperativas de catadores, reparadoras, recicladoras e empresas de logística reversa. “Começamos a identificar a oportunidade há dois anos porque sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a lei seria sancionada. Muitas empresas estavam só esperando a publicação para tomar uma atitude”, afirma Marcelo Sousa, diretor de logística da TGestiona, de São Paulo, unidade do Grupo Telefônica.
A empresa já trabalha com logística reversa de eletroeletrônicos para clientes como TVA, Lenovo e Positivo, recolhendo produtos devolvidos por clientes. Recentemente, a TGestiona criou uma central de logística reversa para reduzir custos de operação e ganhar o know-how necessário para atender às novas demandas previstas pelo PNRS. “Esse mercado vai demandar empresas especializadas porque a eficiência da logística reversa depende muito dos volumes. Se você trafega vazio e por longas distâncias, o custo aumenta muito”, explica.
Para o executivo, a associação entre fabricantes de um mesmo segmento é a saída mais fácil para reduzir as despesas que virão com logística reversa. O conselho vale especialmente para pequenas e médias empresas, que trabalham com volumes menores. “De qualquer forma, eu acredito que o consumidor vai começar a preferir comprar de quem estiver preparado para cumprir a legislação, ou seja, receber o resíduo de volta. Por isso, o caminho é sair na frente”, destaca Sousa.
A eficiência financeira das operações também depende da melhor estruturação da cadeia de coleta e destinação dos resíduos, afirma o executivo. É preciso, por exemplo, contar com uma ampla rede de postos para agrupamento dos volumes coletados. Quanto mais próximas estiverem as empresas de destinação, menores serão os custos porque o transporte é o item mais caro no processo de logística reversa. Segundo Sousa, o problema é que ainda há um número muito escasso de empresas reparadoras e recicladoras.
“A criação de uma infraestrutura para destinação correta dos resíduos será o primeiro desafio do PNRS após a fase de conscientização”, afirma Ernesto Watanabe, diretor-geral da Descarte Certo. Fundada em 2008, em São Paulo, a empresa lançou há seis meses um serviço pré-pago de descarte de itens eletroeletrônicos. Comercializado nas lojas da rede Carrefour, o serviço tem ganhado cada vez mais usuários. A Descarte Certo agenda o melhor dia e horário para fazer a coleta e entrega ao cliente um certificado de destinação correta do produto.
Por enquanto, o serviço está disponível em todo o Estado de São Paulo e em cidades de Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. “Nossa meta de expansão é o Brasil inteiro”, afirma Watanabe. A empresa também projeta uma parceria com fabricantes para colocar o selo da Descarte Certo no momento em que a mercadoria estiver saindo da fábrica. Desta forma, o cliente teria a garantia do serviço de descarte desde a aquisição do produto. Hoje, empresas como o banco Santander dão descontos no serviço para clientes preferenciais.
Lixo lucrativo
Watanabe destaca o enorme potencial de negócio que existe por trás do lixo eletrônico no Brasil. Segundo ele, mais de 100 milhões de novos eletroeletrônicos são colocados no mercado brasileiro a cada ano. “Precisamos transformar itens obsoletados em matéria-prima para novos produtos”, destaca. Para o empresário, vislumbrar e formatar novos negócios é a única forma de fazer a lei “pegar”. “Tem que haver um componente financeiro, senão a lei cai no esquecimento”, acredita Watanabe.
Para empresas como a Wisewood Soluções Ecológicas, cuja proposta é substituir a madeira por compósitos plásticos recicláveis, a lei é muito bem-vinda. Com a exigência de destinação correta para os resíduos, a tendência é que aumente o volume de matéria-prima proveniente de recicláveis e, consequentemente, haja queda nos preços. “Hoje eu compro muita coisa em aterros sanitários. Como eles devem se tornar muito caros com o fim dos lixões, a tendência é adquirir resíduos diretamente do gerador”, explica Rogério Igel, proprietário da empresa.
A base da madeira Wisewood é qualquer tipo de plástico reciclável. A ele podem ser agregadas até 40% de fibras vegetais como serragem, bagaço de cana, bambu, borra de café, sabugo de milho, casca de arroz, raspas de couro, algodão e folhas, entre outras. A empresa calcula que retira cerca de 700 toneladas por mês de resíduos descartados. Fundada em 2007, em São Paulo, a Wisewood começou suas atividades desenvolvendo pallets, estacas e dormentes. Segundo Igel, para cada três dormentes feitos com madeira plástica, três árvores deixam de ser derrubadas.
O empresário ainda destaca outras vantagens da tecnologia Wisewood: alta durabilidade, imune a pragas, resistente à corrosão, não solta farpas e não absorve umidade. O problema é que ela ainda é mais cara que a madeira, mas para Igel esse entrave está com os dias contados. “Há fortes indícios de que a madeira legal e certificada ficará cada vez mais cara”, argumenta. A confiança de Rogério Igel nesse mercado se traduz em números. Ele está investindo R$ 10 milhões na compra de três novas máquinas. A meta é elevar a produção de 80 para 150 toneladas mensais e o faturamento de R$ 600 mil para R$ 1,3 milhão ao mês.
Para quem vê apenas custos embutidos no PNRS, o especialista em gestão ambiental João Ricardo Magalhães Gonçalves recomenda: “É preciso ser criativo e buscar alternativas para, a médio e longo prazos, tirar proveito da situação. Há muito valor agregado em materiais que hoje seguem para lixões e aterros sanitários. Estamos jogando dinheiro fora”. O executivo, sócio-diretor da Eccox Tecnologia e Soluções Ambientais, de Betim (MG), cita a construção civil para mostrar a necessidade de readequação de processos. Segundo ele, estima-se que a cada três edifícios construídos, um novo poderia ser erguido só com o que foi para o lixo.
A conscientização do que realmente é lixo é o ponto crucial deste debate na opinião do empresário Rodrigo Sabatini, presidente da NovoCiclo Ambiental, de Florianópolis. “Lixo é lixo, resíduo é resíduo. Eles têm que ser destinados para lugares diferentes”, afirma. A empresa faz a gestão de resíduos em empresas, condomínios residenciais e cidades, baseada no conceito de lixo zero. “Nosso trabalho é fazer com que o responsável encaminhe o resíduo para um destino onde ele possa ser utilizado em nova etapa de produção. Não adianta só passar o problema para frente”, explica Sabatini.
O fato, segundo o advogado Wladimir Antonio Ribeiro, do Escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados, é que as empresas que não se adequarem podem perder mercado. Tanto no Brasil quanto em outros países, onde os consumidores já esperam atitudes responsáveis dos fabricantes diante do descarte de seus produtos. Para Ribeiro, que assessorou o Ministério do Meio Ambiente na elaboração da nova lei, o PNRS é “uma política necessária num momento de forte crescimento econômico e redistribuição de renda”, sob pena dos aterros sanitários entrarem em colapso no Brasil. “Temos que colocar preço nas coisas para que ele seja sentido no bolso. Hoje, não custa nada jogar uma garrafa pet no rio. Isso tem que mudar.”
O que diz a lei
- Resíduo é o descarte que pode ser reaproveitado ou reciclado.
- Rejeito é o lixo que não pode ser reaproveitado.
- O destino de resíduos passa a ser responsabilidade de toda a cadeia envolvida – fabricantes, importadores, comerciantes, consumidores e empresas de serviço público.
- O fabricante é o responsável pela coleta e destino final do produto ao final de sua vida útil.
Linha direta
Descarte Certo: (11) 2167-5800
Eccox Tecnologia e Soluções Ambientais: (31) 3591-1050
NovoCiclo: (48) 3025-1134
TGestiona: 0800 777-1010
Wladimir Antonio Ribeiro:(11) 3068-4700
Wisewood: (11) 4594-5813
Fonte: Cléia Schmitz
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