sábado, 27 de novembro de 2010

Atender nova classe média traz desafios

Centro varejista no Largo 13, São Paulo, testa preferências de público pouco conhecido

A nova classe média brasileira vai às compras. E gosta muito de consumir, conforme detectado por alguns institutos de pesquisa.
"Essa nova classe social traz grandes desafios em relação aos públicos das classes mais abastadas, A e B, para os quais eram e foram desenvolvidos produtos, serviços e estratégias de vendas nos últimos anos", analisa Marcos Romiti, diretor da Real Estate Partners (REP), idealizador do Mais Shopping Largo 13, localizado no Largo 13 de Maio, na zona sul de São Paulo.
No local escolhido pela REP, onde foram investidos R$ 240 milhões, circulam diariamente 1,3 milhão de pessoas, que cruzam a área para outras regiões, muitas abastadas, onde trabalham.
É ainda um centro comercial importante, com lojas de ruas e bancas de comércio variado, regular e irregular. Há ainda um terminal de ônibus urbano e interurbano, uma estação do metrô (Largo 13) e a estação ferroviária Santo Amaro, da Companhia de Transporte Urbano Paulista (CPTM).
Além disso, serviços públicos como Poupatempo, uma unidade da escola de ensino superior Uninove, uma unidade do Senai e uma do Sesc completam a atratividade do empreendimento, inaugurado em 29 de outubro com grande expectativa, não apenas dos proprietários, mas também de lojistas que estão fazendo do centro de varejo um laboratório para conhecer o perfil de consumo dessa população.
"Há cerca de cinco anos pensávamos em ampliar os negócios para outras classes socioeconômicas, e o Mais Shopping Largo 13 pareceu o lugar ideal para começarmos", conta Olivier Chemin, diretor da rede de Salões de Beleza Jacques Janine (JJ). A rede de beleza criou uma marca específica para a nova classe média, a Basic Beauty, inspirada em conceitos europeus de lojas do setor dirigidas para esse perfil.
A Basic Beauty terá um conceito de serviço diferente em relação aos salões JJ, dispensando manobristas, copeiras, recepcionistas e auxiliares.
A empresa também visa a comercialização de produtos, alguns deles dirigidos para profissionais.
Os serviços de beleza são mais baratos, numa proporção exemplificada no corte de cabelo e escova, que sai por R$ 180 na JJ, enquanto custa R$ 40 no Basic Beauty.
"Os cabeleireiros da Basic Beauty serão os profissionais da Jacques Janine de amanhã", diz Olivier.
A Basic Beauty do Mais Shopping Largo 13, que ainda não estreou devido a um atraso de cronograma de instalação, deverá inaugurar uma nova franquia da empresa a partir dessa experiência. A loja de estreia tem 100 metros quadrados, vem menor em relação às outras 60 da JJ, mas porte médio/grande para o padrão do Mais Shopping Largo 13, onde as os módulos estão entre 10 e 20 metros quadrados. A empresa gastará cerca de R$ 200 mil, e estima que no máximo em 24 meses tenha recuperado o investimento, frente aos 40 meses que uma JJ demandaria.
Organizadas numa área de 52 mil metros quadrados, as 400 lojas que o Mais Shopping Largo 13 oferece estão dispostas em um desenho planejado para atender ao desejo de variedade da nova classe média. "Nossos estudos e pesquisas indicam que esse público quer ver muito produto", diz Romiti. Segundo ele, para a nova classe média, vitrines com poucas peças é sinal de pobreza, não de sofisticação. Para as pessoas que chegam agora ao consumo, não há interesse por exclusividade, ao contrário. "Marcas conhecidas e usadas por muitos são apreciada por significar inclusão." Além das marcas menos conhecidas, as âncoras estão presentes: Boticário, TNG, Hering, L"acqua di Fiori, Água de Cheiro, Bauducco participam com lojas maiores, que podem ter, por exemplo, 300 metros quadrados e custar mais de R$ 1 milhão para equipar e decorar o espaço. Na área de alimentação, as marcas também predominam, e as ofertas passam por McDonald"s, Girafas, Subway, Burguer King, Bom Grillê, Roastec Potato, Spoleto, Bob"s.
Para os comerciantes de marcas sem fama, as famosas são muito úteis. Atraem o público que eles tentarão conquistar. "Estar ao lado de muitas lojas é fator positivo, porque tenho a oportunidade de mostrar meu produto e tentar ganhá-lo", diz Felipe Schwartsman, proprietário da Pretíssima, marca de roupas e acessórios femininos que está em um shopping center pela primeira vez.
Schwartsman conta que tem mais duas lojas, uma de rua, na Teodoro Sampaio, zona oeste, e outra num outlet na Vila Mariana, sudoeste. No Mais Shopping Largo 13, ele gastou cerca de R$ 25 mil em seus 17 metros quadrados, em mobiliário, vitrine e pontos de eletricidade, pois aproveitou piso, ar condicionado e eletricidade do espaço comum. "Minha expectativa é positiva, porque trabalho com o mesmo público esperado para o Mais Shopping, com a diferença de que aqui há mais fatores de atratividade como segurança e conforto em relação ao que existe no entorno de minhas lojas na rua e no outlet", diz.
O público da nova classe média pagará 28% a menos para ir ao cinema no Largo 13 em relação ao preço dos ingressos praticados em outros shoppings da cidade. A rede mexicana Cinépolis, das nas oito salas inauguradas, três delas em 3D, é especializada no setor popular e em preços baixos.
Com mais de 2.200 salas de exibição em países como Colômbia, Guatemala, Costa Rica, Panamá, Honduras, Peru, El Salvador e Índia, a Cinépolis começou a atuar em junho deste ano no Brasil, e está em Ribeirão Preto (SP) e em Belém (PA). A exibidora pretende investir R$ 500 milhões para exibir filmes em mais 290 cinemas em todo o país. Para Eduardo Acuña, presidente da empresa no Brasil, a motivação para os investimentos vem do potencial a ser explorado. Em países como México, Alemanha e Argentina, há 24 mil habitantes por sala de cinema. No Brasil, são 80 mil.

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