Se o consumo das famílias livrou a economia brasileira de uma forte retração, no Rio de Janeiro este salvamento foi e continua sendo ainda mais eficaz. Com renda superior à média nacional, desemprego menor e um setor de serviços duas vezes maior que a combalida indústria, o estado tem vendido e arrecadado mais do que o esperado. E a tendência é melhorar: em maio, cerca de 33% dos lares fluminenses estimaram um orçamento mais livre para comprar. No mesmo mês do ano passado, antes da crise, o percentual que previu sobra na renda era de 25%, segundo pesquisa da Fecomércio-RJ.
O Rio está numa situação ainda mais confortável que o restante do país, porque aqui o setor de serviços pesa mais e acaba absorvendo a mão-de-obra das vagas perdidas na indústria analisa o economista da Fecomércio-RJ Gabriel Fantini.
Levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado a partir de dados do Caged mostra que, de setembro de 2008 a abril de 2009, o saldo de empregos com carteira assinada no Brasil ficou negativo em 303 mil vagas. No Rio de Janeiro, no mesmo período, o saldo da criação de empregos ficou positivo em 36.681, conforme observa o secretário Júlio Bueno.
O secretário destaca a implantação simultânea dos empreendimentos siderúrgicos da ThyssenKrupp CSA e da Votorantim, além do Comperj, do Arco Metropolitano e do Porto do Açu que, segundo ele, somam US$ 50 bilhões.
Os números da economia do Rio de Janeiro, quando avaliamos os meses em que a crise se tornou aguda, mostram um desempenho superior ao dos estados que nos comparamos, bem como em relação à média brasileira.
A taxa de desemprego no Rio é a segunda menor do Brasil, entre as cidades pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perde apenas para Porto Alegre. No país, o desemprego cresceu de 8,5% para 8,9% da População Economicamente Ativa (PEA) em um ano. No Rio, a taxa recuou de 7,1% em abril de 2008 para 6,8% em abril de 2009.
Fantini destaca que não houve oscilações bruscas no mercado de trabalho do Rio como aconteceu no restante do país. Um diferencial é a duração do emprego fluminense. O tempo médio de trabalho do brasileiro num determinado emprego é de 320 semanas, período que chega a 400 semanas no Rio.
Temos alguns fatores animadores, entre eles o fato de a indústria fluminense ter parado de demitir em abril e a construção civil ter reagido muito rápido; é um setor que está bombando avalia Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan. A renda do trabalho na capital fluminense e arredores, de R$ 1.358 em abril só perde para São Paulo. Em abril, a renda per capita cresceu 0,9% no Rio e 0,6% no País. No ano, o rendimento recuou no estado, enquanto manteve crescimento na média nacional.
Carro-chefe
O mais importante nisso tudo é que o comércio não cedeu comentou Fantini.
As vendas no varejo do Rio cresceram num ritmo três vezes maior em março em relação ao restante do País. De acordo com a última pesquisa do IBGE sobre o tema, o comércio da grande Rio cresceu 6,45% no primeiro trimestre. No Brasil, a taxa foi 3,84%.
De acordo com a Fecomércio-RJ, o consumo de bens duráveis e semiduráveis nos últimos seis meses avançou de 41,1% para 44,5% entre abril de 2008 e 2009, com destaque para o aumento da aquisição de carros, impulsionada pela redução do IPI. Para o próximo semestre, a projeção também é de aumento. Se em abril do ano passado, 28,9% tinham a intenção de comprar algum produto durável ou semidurável, em igual mês de 2009 essa parcela ficou em 39,8%, diz a pesquisa.
De acordo com a secretaria de Fazenda, as receitas tributárias do segundo bimestre de 2009 excederam a meta em 18,2%, com crescimento da arrecadação do ICMS de 15,8 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2008. Para maio, contudo, a perspectiva é de um resultado pior.
Entre bens duráveis e serviços, os segmentos que mais venderam foram os de farmácia (7,4%), perfumaria (5,5%) e hotelaria (5,4%), segundo a Fecomércio-RJ. De acordo com Bueno, no primeiro quadrimestre de 2008 foram abertas 9.918 empresas e em 2009, 10.332 empresas no Rio. Um aumento mesmo diante da crise econômica.
Apesar do melhor desempenho em quase todos os setores da economia, o consumo de energia no Rio retrocedeu de 2,8 mil GigaWatts/hora em janeiro para 2,7 mil GW/hora em abril. No Brasil, houve crescimento de 30,8 mil GW/hora para 32,1 mil GW/hora.
Sabrina Lorenzi
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