BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou ontem a quarta redução consecutiva na taxa básica de juros. O corte foi novamente de um ponto percentual, o mesmo feito na reunião anterior, o que levou a Selic de 10,25% ao ano para 9,25% ao ano, abaixo das previsões do mercado.
Desde o final de 2003, no início do Governo Lula, o BC não promovia uma sequência de cortes de juros dessa magnitude. E pela primeira vez, desde que a atual série é medida, os juros no Brasil ficam abaixo dos dois dígitos. Com isso, o juro real (taxa de juros nominal menos a inflação) fica entre 4% e 5% ao ano.
Em janeiro, a taxa caiu de 13,75% para 12,75% (um ponto). Em março, o Copom acelerou a redução, e a taxa foi para 11,25% (1,5 ponto). No final de abril, porém, o corte foi menor, para 10,25% ao ano.
Desde a última reunião, o BC vem indicando que iria dar continuidade ao processo de redução da taxa Selic, devido ao agravamento da crise econômica. Com leve sinais de melhora, porém, as reduções desaceleraram.
Agora, os diretores do BC só voltam a se reunir nos dias 21 e 22 de julho, quando deve haver um novo corte. De acordo com a pesquisa Focus, realizada pelo BC com o mercado financeiro, os economistas esperam queda para 9% -mesma previsão para o encerramento da Selic de 2009.
Apesar do corte de ontem, o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros do mundo. Em relação aos juros reais (descontada a inflação), o Brasil ocupa terceira posição: a atual taxa de 4,9% é menor apenas que a da China (6,9%) e da Hungria (5,9%), segundo cálculos da consultoria Uptrend.
Em termos nominais, o Brasil fica atrás da Venezuela (21,4%), Rússia (11,5%), Argentina (10,5%), Hungria (9,5%) e Turquia (9,3%).
A decisão de baixar a Selic vem na esteira da crise econômica mundial, que atingiu o Brasil no último trimestre de 2008. Isso porque uma taxa de juros menor incentiva o consumo, o que leva a uma reativação da economia.
O ritmo da redução, entretanto, é calculado considerando vários dados, como inflação e Produto Interno Bruto (PIB), já que quanto menores os juros, maior a demanda de consumo, o que pode pressionar os preços para cima e gerar inflação.
O principal reflexo da queda da taxa básica para o consumidor é nos juros bancários. Diversos bancos (Nossa Caixa, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú-Unibanco, Banco do Brasil) têm anunciado corte no juros em empréstimos pessoas e financiamentos imobiliários desde que o BC começou a baixar a Selic.
A taxa média geral, incluindo pessoa física e jurídica em todas as modalidades pesquisadas pelo BC, caiu de 38,6% ao ano em abril para 38,3% ao ano em maio. É a menor taxa desde junho de 2008, quando estava em 38%.
Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL_BH), Roberto Alfeu, o país fez por merecer o patamar atual de juros. Viemos avançando lentamente, derrubando a inflação. Os sucessivos cortes na Selic vêm se justificando diante do claro espaço para afrouxamento fornecido pelo cenário, frisou. Em comunicado à imprensa, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Robson Andrade destacou que o crescimento negativo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre mostra que o Banco Central deveria ter reduzido a taxa de juros com maior intensidade e de forma mais agressiva, chegando aos 9%a.a. Ao não proceder dessa forma, contribuiu para redução do PIB. E ao insistir no erro, como fez hoje, o BC age para que não superemos o quadro adverso na velocidade demandada pela sociedade brasileira, afirmou. O presidente da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, disse que o caminho está certo, que a redução é positiva, mas que o Governo ainda se mostrou tímido ao cortar a taxa de juros. Se dizem que estamos nas melhores condições do mundo, essa redução poderia ser maior, salientou.
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