Ir ao shopping e comprar aquela roupa nova tão desejada é muito prazeroso. Quanto mais, melhor, não é? Ainda mais morando em Brasília, onde faltam opções de lazer. O problema é quando as compras deixam de ser necessárias e viram compulsórias e dispensáveis. O ato de comprar indiscriminadamente chama-se oneomania. "Prefiro gastar comprando roupa a fazer viagem", confessa a advogada Elvira Rodrigues. Para ela, se um modelo ficou bem no corpo, compra vários iguais de cores diferentes. "É mais prático porque se eu já gostei, na hora de me vestir não tem crise", afirma.
A questão é que pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em junho apontou que 145 mil pessoas tiveram o nome incluído no cadastro. E que 54,93% dos incluídos no SPC, no DF, são mulheres e 45,07% são homens. O maior número é entre 30/39 anos (30,35%), seguidos de 40/49 anos (24,78%).
Segundo o psiquiatra e professor de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Raphael Boechat, comprar excessivamente por si só não é uma doença. "É uma alteração de comportamento, que pode estar dentro de quadros psiquiátricos", explica. Ele diz que o ato de comprar muito está ligado a outros problemas, que por meio de uma terapia podem ser diagnosticados.
O psiquiatra comenta que o mal das compras excessivas tende a atingir mais as mulheres. Apesar do sexo feminino ser o principal alvo, muitos homens gastam além da conta. Caso do professor universitário Eduardo Dias, que tem seis cartões de crédito para garantir as compras. Ele revela que o último gasto foi com uma carteira de marca que custou R$ 500. 'Peco pelo excesso. Já fiquei com muito sentimento de culpa', revela. Ele diz que é muito comum comprar algo e depois acabar nem usando.
A família de Eduardo não aprova o exagero e ele tem que levar aos poucos o que adquire para casa. "Eu não acho que gasto muito. As pessoas é que gastam pouco", brinca. Ele diz que às vezes sente-se depressivo e procura a "compro terapia", como apelida quando vai às compras. Mas já pensou em procurar um psicólogo para sanar a compulsividade.
DEVEDORES ANÔNIMOS
Em alguns estados do País existe o Devedores Anônimos, grupo de autoajuda inspirado no Alcoólicos Anônimos. Um dos fundadores, mandei, diz que Brasília é campeã no número de e-mails recebidos pelo site do grupo. Segundo ele, há expectativa de abrir um no DF, mas não há data para que isso ocorra. "Não existe ex-dependente", diz mandei, no grupo desde a fundação, há dez anos. Para ele, a doença não tem cura. "O devedor anônimo deve estar sempre se policiando", fala. Para melhorar, primeiro precisa perceber que tem que buscar ajuda.
Em Brasília, quem se identificar com o problema pode procurar um ambulatório de psiquiatria nos hospitais públicos e marcar consulta. O gerente de saúde mental da Secretaria de Saúde, Ricardo Lins, diz que há tratamento disponível. "Para tratar o quadro de mania o mais comum é utilizar-se da psicoterapia", diz.
O corretor de imóveis Lucas (nome fictício) sempre gostou de comprar, mas começou a mudar de hábito porque não aguentava mais tantas dívidas. "Hoje, opto por comprar à vista. Cancelei meus cartões de crédito e cheque. Agora só débito."
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