Pouco mais de uma semana após a unificação do sistema das máquinas leitoras de cartões de crédito e débito, que passaram a receber cartões de qualquer bandeira, os comerciantes já comemoram os primeiros benefícios. Ao escolherem qual máquina de operadora irão devolver, já que cada aparelho é alugado - se Cielo, que recebia Visa, ou se Redecard, usada para Mastercard - eles estão optando por ficar com a empresa que oferece a menor taxa, ou o menor valor de aluguel da máquina.
Assim, a principal mudança esperada pelas entidades representativas do comércio - a prestação do serviço a um preço mais baixo - já está acontecendo de fato para quem negocia. No restaurante Emporium Armazém Mineiro, situado no Bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte, o proprietário Roberto Pessoa Ayres conseguiu reduzir a taxa de administração que pagava à operadora de 3,3% para 2,5%.
A mudança se deu justamente na hora de escolher com qual máquina iria ficar. A Cielo, que operava com taxa de 2,5%, ofereceu a ele trabalhar também com a bandeira Mastercard pela mesma taxa, sendo que pagava por esta bandeira, junto a Redecard, 3,3%.
Roberto Ayres não teve dúvida e decidiu então ter somente máquinas Cielo operando em seu restaurante. Só não fez a mudança completa - das três máquinas, ele ainda tem uma que é da Redecard - porque só esta operadora recebe os tíquetes restaurantes com os quais trabalha, o que ele acredita também mudará em breve. Antes da alteração, entretanto, o empresário tentou negociar com a Redecard, pedindo uma contraproposta melhor, mas não conseguiu.
"Mas esta semana uma boa coincidência aconteceu. Uma executiva da Redecard veio almoçar em meu restaurante e, ao receber na mesa a conta numa máquina Cielo, queixou-se de não ser atendida pela máquina da empresa dela. Aí, ao saber da história da minha tentativa de negociação, prometeu entrar em contato comigo nos próximos dias para oferecer uma proposta melhor", conta.
Roberto Ayres paga de aluguel, por cada máquina, R$ 135, tanto as móveis quanto fixas. Mas o que pesa mesmo em seu bolso é o custo mensal gerado pela taxa de administração - R$ 7 mil, já que 70% das contas dos clientes são pagas, segundo ele, com o "dinheiro de plástico". Com a redução da taxa de 3,3% para 2,5%, ele calcula economizar, somando-se a redução do número de maquinas alugadas (ele devolveu duas máquinas), cerca de R$ 550 por mês, ou R$ 6.600 por ano.
Mercado aposta em equipamentos com isenção do aluguel
A atitude de Roberto Ayres é justamente a recomendada por duas das entidades que representam o comércio em Belo Horizonte - Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) e Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas/BH). A orientação é negociar, e até possíveis prejuízos causados por pane do sistema - o que ocorreu no final do ano passado, por exemplo, quando uma das operadoras de cartões ficou fora do ar por várias horas em pleno período de compras de Natal - podem ser previstos em contrato. "Observe bem as letras miúdas do contrato e não fidelize por enquanto com nenhuma operadora. Há a expectativa da entrada de novas empresas desse setor no mercado, como a GetNet, do Santander, que devem oferecer isenção do aluguel de máquinas por exemplo e até taxas melhores", orienta os comerciantes o vice-presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.
Se a unificação é benéfica para os pequenos comerciantes, já que o aluguel das máquinas pesa no orçamento mensal, fazendo com que alguns até desistam de oferecer aos clientes o pagamento com cartões, ficando restritos somente a cheques e dinheiro, para os grandes empresários a unificação do sistema das máquinas leitoras também está fazendo muita diferença. Marcelo Silva cita o exemplo de um dos lojistas associados à CDL que vende R$ 1 milhão por mês em cartão de crédito/débito. "Uma redução na taxa de administração que ele paga, de apenas 1%, representaria uma economia mensal de R$ 10 mil, e anual de R$ 120 mil", calcula.
Para o presidente do Sindilojas, Nadim Donato, a mudança, por enquanto, está sendo feita somente pela busca de custos menores, já que a diferença tecnológica das máquinas, segundo ele, é pequena. "Somente no Natal, quando o volume de vendas é muito grande, é que sentiremos de fato o peso dessa mudança. Por enquanto, mais de 90% dos lojistas ainda estão avaliando e negociando com as empresas, para decidir com qual delas irá continuar", afirma.
Donato prevê que 50% das máquinas sejam devolvidas, e que as empresas acabarão oferecendo-as de volta gratuitamente aos lojistas. Por enquanto, Donato considera a proposta feita por elas, de redução de 50% do aluguel das máquinas leitoras, ainda insuficiente para conquistar os comerciantes. "A proposta que esperamos é de, no mínimo, não pagar o aluguel das máquinas", diz.
Donato e Marcelo Silva acreditam que a redução dos custos para os lojistas poderá ser repassada aos consumidores na forma de preços mais baixos. Mas, por enquanto, em período de adaptação ao novo sistema, outra preocupação é com o bom funcionamento das operações.
No restaurante Emporium, por exemplo, em uma semana usando apenas máquinas Cielo, somente um cartão de cliente com a bandeira Mastercard não passou. Roberto Ayres informa que, para atender a esse cliente, seus funcionários recorreram à máquina da Redecard que ele ainda tem. Entretanto, acredita que não haverá mais ocorrências como essa com o passar do tempo, em que o sistema certamente será aperfeiçoado.
Taxista deve ampliar uso
Uma categoria que também poderá ser beneficia da com a unificação das máquinas leitoras são os taxistas. Dos 6.028 profissionais que trabalham hoje em Belo Horizonte, 2 mil são associados a cooperativas. Destes, a maioria já trabalha com pelo menos uma máquina leitora de cartões, informa o diretor-tesoureiro do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir), Ricardo Faedda.
Faedda explica que os cooperados são beneficiados pelo poder de negociação das cooperativas, e aí conseguem alugar as máquinas por valores menores. "Mas com a unificação do sistema e a possibilidade de aceitar todos os cartões, acredito que o número de taxistas que vão optar por essa forma de pagamento irá aumentar", comenta. Para Faedda, o recebimento das corridas por meio de cartões de crédito representará uma segurança a mais para o taxista, pois diminuirá a quantidade de dinheiro dentro do veículo.
Operadoras apontam crescimento
Tanto a Cielo quanto a Redecard divulgaram números que indicam o aumento de suas operações por causa da unificação das máquinas leitoras.
A Redecard, por meio de sua assessoria de imprensa, divulgou nota informando que "após uma semana do início de aceitação do Visa, a Redecard já registrou 2,35 milhões de transações com os cartões dessa bandeira para compras no crédito e débito. Com a chegada da Visa, a Redecard passou a contar com 18 bandeiras em seu portfólio."
Já a Cielo informou, também por meio de sua assessoria, que, no mesmo período, capturou um total de 2,21 milhões de transações da bandeira Mastercard. "Este número indica que atingimos 120% do nosso fair share, ou seja, considerando a divisão atual de participação de mercado das duas principais bandeiras no Brasil, sendo que a Mastercard representa 40%, superamos esta proporção em 20%. Temos verificado um crescimento diário de transações, sendo que no primeiro dia realizamos 205 mil transações, para totalizar os 2,21 milhões na semana, como já mencionado."
Nenhum comentário:
Postar um comentário